Quando “proteger a vaca” passa a justificar o abate

 


A falsa filosofia de que apenas vacas desi são sagradas

Recentemente circulou nas notícias um vídeo chocante envolvendo um devoto empresário de Madurai que mantinha cerca de 700 vacas sob proteção. No vídeo, ele relata:

“Um maharaja da ISKCON veio até mim e me disse que estas não são vacas de verdade. Então eu doei todas elas e trouxe vacas verdadeiras da raça desi.”

O resultado dessa afirmação é devastador. Por causa dessa falsa filosofia — a ideia de que apenas vacas de raças indianas (desi) seriam vacas “reais” ou sagradas — 700 vacas protegidas acabaram sendo descartadas, muito provavelmente destinadas ao abate. Tudo isso porque um líder religioso afirmou que elas “não eram vacas de verdade”.

Esse não é um caso isolado. É o efeito direto de uma ideologia perigosa que vem sendo sistematicamente promovida dentro e fora da ISKCON.

A origem de uma distorção grave

A ISKCON foi a organização que iniciou e impulsionou essa narrativa de que apenas vacas de raças indianas são sagradas. Por volta de 2018–2019, um artigo escrito por Hari Parshada Das, membro do Conselho Consultivo Shástrico da ISKCON, lançou essa ideia ao utilizar de forma fragmentada, incorreta e enganosa uma citação shástrica, alegando que raças ocidentais não seriam “vacas reais”.

Na época, esse artigo foi cuidadosamente refutado, demonstrando-se o contexto completo da citação e como ela havia sido manipulada. Curiosamente, logo depois disso, Urmila Dasi (Edith Best) entrou em contato solicitando que o artigo crítico fosse removido, alegando que ele prejudicaria a imagem de Hari Parshada Das como estudioso de sânscrito — apesar de seu nome sequer ter sido mencionado no texto.

Após uma conversa em grupo, Hari Parshada Das reagiu com ofensas e maldições pessoais. Em privado, Urmila Dasi admitiu que o artigo original estava errado, mas ainda assim insistiu para que a crítica fosse apagada. Quando isso não ocorreu, vieram o silêncio, o afastamento e os bloqueios.

Hoje, o resultado está à vista.

De erro interno a ideologia dominante

Essa filosofia distorcida não apenas se espalhou, como se tornou uma crença dominante em setores do hinduísmo moderno, sendo promovida por devotos, líderes e até políticos.

Em uma conferência de “proteção às vacas” organizada pela própria ISKCON, o político Subramanian Swamy afirmou publicamente ao microfone:

“Apenas vacas de raças indianas não devem ser mortas; outras vacas podem ser mortas.”

O mais grave não foi apenas a declaração — foi o silêncio absoluto dos líderes da ISKCON presentes.

Nenhuma objeção. Nenhuma correção. Nenhuma defesa da vaca como princípio universal.

Como uma organização pode realizar uma conferência de proteção às vacas onde se afirma explicitamente que certas vacas podem ser mortas, sem que ninguém se levante para contestar?

A posição real de Śrīla Prabhupāda

Essa ideologia é completamente contrária ao que ensinava Śrīla Prabhupāda.

Há registros claros de que ele desejava importar raças estrangeiras de vacas para Vrindavana, elogiando-as como “muito boas”. Em nenhum momento ele afirmou que vacas não-indianas não fossem vacas, não fossem sagradas ou não merecessem proteção.

A ideia de que apenas vacas desi são “reais” não vem de Prabhupāda, não vem das escrituras e não vem da tradição vaishnava autêntica.

Quando a teologia vira ferramenta do abate

Não existe instrumento para medir:

quantos dos 33 crores de devas estariam em um animal,

o nível exato de sattva, rajas ou tamas em uma vaca,

ou o “grau de sacralidade” de uma raça específica.

Esse tipo de discurso é vazio, especulativo e perigoso.

Todos sabem o que é um cachorro. Ninguém diz que um cão deixa de ser cachorro por não ser de uma raça local. O mesmo vale para gatos — e para qualquer outro animal. Apenas no caso das vacas surgiu essa ideia absurda de que raça define espécie.

Quem se beneficia disso?

Os matadores de vacas.

Essa filosofia cria uma justificativa perfeita para o abate em massa:

“Não são sagradas.”

“Não são vacas.”

“Podem ser mortas.”

Na prática, ela autoriza o abate de cerca de 90% das vacas da Índia, sem culpa religiosa.

Seleção genética não cria novas espécies

Animais e humanos sempre passaram por seleção genética. No Ocidente, algumas vacas foram criadas para produzir mais carne, outras mais leite, algumas sem chifres, outras mais dóceis. Isso não as transforma em outra espécie.

Da mesma forma, cães foram seletivamente criados — inclusive raças agressivas — e humanos também foram historicamente “selecionados” para trabalho forçado ou escravidão. Muitas vezes, essas práticas foram motivadas por interesses profundamente imorais. Ainda assim, a espécie nunca deixou de ser o que é.

A vaca não faz essa distinção — o humano faz

Quem convive com vacas sabe:

vacas desi não discriminam vacas Jersey, nem qualquer outra raça. Elas convivem, interagem e se reconhecem como iguais.

Essa distinção é puramente humana — e serve a interesses mortais.

Isso não é uma discussão estética sobre qual raça é mais bonita, mais dócil ou produz melhor leite. O que está sendo dito é muito mais grave:

“Elas não são vacas.

Não são sagradas.

Não são adoráveis.

Podem ser mortas.”

Isso é, literalmente, uma sentença de morte travestida de discurso religioso.

Todas as vacas são sagradas

Sim, algumas vacas podem ser mais bonitas, mais dóceis, com leite mais doce ou características mais agradáveis. Mas todas são vacas — e todas são sagradas.

Silenciar diante disso é participar do pecado.

Onde estão os líderes da ISKCON dispostos a se levantar em defesa da mãe vaca? O silêncio diante desse tema ecoa outros silêncios graves — inclusive diante de abusos cometidos dentro de suas próprias instituições.

jani’ sakshi nahi deya, tara papa haya

“Aquele que conhece a verdade e ainda assim não dá testemunho torna-se cúmplice do pecado.”

— Chaitanya Charitamrita 2.5.90

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