O que é seguir quatro princípios regulativos? Krishna West vs. ISKCON
O que é seguir quatro princípios regulativos?
Está
sendo amplamente propagandeado que o Krishna West deve ser aceito como
um projeto legítimo pois, apesar de se propôr a modificar os aspectos
externos da consciência de Krishna, ele conserva os seus elementos mais
essenciais: cantar 16 voltas de japa e seguir aos quatro princípios
regulativos.
Sendo assim, muitos devotos estão transmitindo ao público a mensagem de
que todos os mestres espirituais em nosso movimento possuem a mesma
visão sobre o que seja seguir quatro princípios regulativos. Mas não
devemos desorientar ao público com uma mensagem que sabemos não
corresponder à realidade. O Krishna West propõe seguir quatro princípios
regulativos; porém, o seu entendimento do que seja seguir tais
princípios é incompatível com o entendimento de outros. Um devoto agindo
sob a orientação do Krishna West pode cometer atos que, aos olhos de
outros, estão quebrando princípios; mas que, aos seus olhos, são
perfeitamente aceitáveis.
Mas de que modo isso ocorre? Para cada um, o que é seguir quatro
princípios regulativos? São essas as perguntas que esclareceremos a
seguir.
O Primeiro Princípio Regulativo
Hridayananda Dasa Goswami compreende que, para que um alimento se torne
prasadam, basta oferecê-lo a Kṛṣṇa, seja qual for a sua procedência;
desde que, obviamente, ele não contenha carnes, peixes ou ovos.
Ele escreveu:
“O
próprio Prabhupada já pediu alimentos de ‘karmis’ no Hong Kong Hilton,
de acordo com o Prabhupada Lilamrta. Os shastras não falam diretamente
sobre o assunto de cozinhar o próprio alimento, portanto, isso deve ser
um detalhe.”
“O
próprio Prabhupada permitia que bhaktas que não estão cantando 16
voltas e estritamente seguindo quatro princípios regulativos cozinhassem
para outros em programas públicos. Infelizmente, muitos devotos estão
mais preocupados com essas regras do que com salvar o mundo. Prabhupada
pessoalmente me contou isso e nós vemos isso o suficiente.”
Estão circulando na internet fotografias de Hridayananda Maharaj se
alimentando de um pacote de biscoitinhos industrializados, sentado em
uma estrada, em um contexto de descontração.
Hridayananda Maharaj obviamente não concorda com o seguinte
entendimento: seguir ao primeiro princípio regulativo é honrar somente
krsna-prasadam, que é o alimento preparado por devotos que estejam
seguindo aos quatro princípios regulativos e cantando 16 voltas por dia,
e rejeitar todos os outros alimentos, exceto em casos de extrema
necessidade.
Hridayananda Maharaj, entretanto, compreende que seguir ao primeiro
princípio regulativo é somente oferecer todos os alimentos a Kṛṣṇa, não
importando por quem eles tenham sido preparados, desde que não contenham
carnes, peixes ou ovos.
Um devoto agindo sob a orientação do Krishna West pode aceitar
alimentos preparados por karmis, como pizzas, picolés, doces, etc., e
oferecê-los a Kṛṣṇa em situações onde teria perfeitamente a opção de ele
mesmo preparar e oferecer kṛṣṇa-prasadam. Essa escolha não é feita em
virtude da impossibilidade de ele mesmo preparar e oferecer alimentos a
Kṛṣṇa, mas trata-se de uma escolha feita por questões de conveniência (
dá menos trabalho do que preparar o próprio alimento ) ou de desejo (
querer provar algo “mais gostoso” do que aquilo que normalmente costuma
preparar por conta própria ).
Tal devoto que age sob a orientação do Krishna West, aos seus olhos e
aos olhos de seu mestre espiritual, não estaria quebrando nenhum
princípio. Entretanto, para outros mestres espirituais, ele está
quebrando o primeiro princípio regulativo.
Quem está correto? Cabe ao leitor decidir. Mas é verdade que todos
temos o mesmo entendimento? Não. Esse é o objetivo desse artigo:
demonstrar que não temos o mesmo entendimento sobre o que seja seguir
quatro princípios regulativos, princípio por princípio.
Romapada Swami, que prega nos Estados Unidos, diz o seguinte:
“Aqui estão algumas instruções valiosas do Caitanya caritamrta e do
diário de Hari Sauri ( escrito enquanto ele servia como servo de
Prabhupada ) sobre o risco de aceitar alimentos cozinhados por
não-devotos, mesmo que sejam vegetarianos! Combine essas instruções com a
pesquisa de Kellogg que enviei-lhes recentemente… para que arriscar-se a
tomar coisas desconhecidas?”[2]
E em alguns trechos do referido diário, Hari Sauri escreveu o seguinte,
após ter visitado com Prabhupada uma casa onde seus anfitriões não
lavavam as mãos e a boca antes de se servirem:
“Durante o café da manhã, todo mundo se sentou ao redor da mesa e o
alimento foi trazido em grandes vasilhas e passado entre todos. Todo
mundo simplesmente se servia, pegando um pouco, comendo e logo depois
pegando um pouco de novo, e assim completamente contaminavam a tudo.
Felizmente, eu tinha servido a Prabhupada um pouco de tudo em seu prato
antes de que qualquer pessoa tivesse a chance de tocar às vasilhas,
então ele não foi afetado.”
No dia seguinte, os devotos acordaram mais tarde do que o de costume, e
Prabhupada atribuiu isso à má associação através de aceitar o alimento
de pessoas que não estão seguindo aos quatro princípios regulativos e
cantando 16 voltas:
“Prabupada disse com leveza, ‘Vocês deveriam ter levantado às quatro da
manhã para o mangal arati e tomado banho, mas devido à má associação de
uma única noite, vocês já foram infectados’. Eu pude então compreender
que ele nos transmitia que a associação com karmis, não importando quão
amigável, é muito perigosa. Ele me contou que isso foi simplesmente por
termos sido alimentados pelos karmis, o processo de alimentação é tão
importante.”
Naquele dia, os devotos abandonaram ao local onde estavam hospedados, e
durante a viagem, Prabhupada demonstrou o passatempo de estar passando
mal durante todo o trajeto ( passatempo, pois os devotos puros nunca
realmente adoecem ), chegando ao ponto de demonstrar vômito. Após o
término da viagem, sentado em sua varanda, Hari Sauri relata que
Prabhupada afirmou aos seus discípulos que aquele aparente mal-estar foi
uma punição imediata de Kṛṣṇa por ele ter sido alimentado pelos karmis.
Através desse passatempo, Srila Prabhupada ensinou aos seus discípulos
que não se deve aceitar alimentos preparados por não-devotos.
Em outro artigo, Romapada Swami também afirma:
“Quando um devoto qualifiado e puro cozinha em uma atmosfera
completamente limpa e de consiência limpa, a prasadam se torna, de modo
correspondente, mais transcendentalmente desfrutada por Krishna. De modo
análogo, quanto mais alguém não estiver purificado, menos Krishna
aceitará à oferenda.” [3]
patraṁ puṣpaṁ phalaṁ toyaṁ
yo me bhaktyā prayacchati
tad ahaṁ bhakty-upahṛtam
aśnāmi prayatātmanaḥ
( Bhagavad-Gita 9.26 )
A palavra prayatātmanaḥ, nesse verso, significa “de alguém em consciência purificada”. aśnāmi prayatātmanaḥ
significa “aceitar de alguém em consciência purificada”. Kṛṣṇa aceita
os alimentos oferecidos pelo devoto em consciência purificada, isto é,
que esteja seguindo aos princípios e ao processo da consciência de
Krishna apropriadamente. ( Tal explicação está contida no comentário a
este verso realizado por Sri Vishvanatha Cakravati Thakur).
viṣayīra anna khāile malina haya mana
malina mana haile nahe kṛṣṇera smaraṇa
( Caitanya-Caritamrta, Antya-lila 6.278 )
“Quando
alguém come o alimento oferecido por um homem materialista, a mente se
torna contaminada, e quando ela está contaminada, torna-se inapto a
pensar em Kṛṣṇa apropriadamente.”
No significado, assim diz Srila Prabhupada:
“Śrīla
Bhaktisiddhānta Sarasvatī Ṭhākura sugere que pessoas que possuem
inclinações materialistas e sahajiyās, ou supostos Vaiṣṇavas que levam
tudo não muito a sério, são ambos viṣayīs, ou materialistas. Comer o
alimento oferecido por eles causa contaminação, e como resultado de tal
contaminação, até mesmo um devoto sério se torna como um homem
materialista.”
Sendo
assim, para os fins do sentido desse verso, até mesmo vaiṣṇavas que não
estejam seguindo aos princípios são considerados como sendo
materialistas. Gaura Kishora Dasa Babaji era famoso por rejeitar
aspirantes a seguidores que aceitassem alimentos oferecidos em festivais
Vaisnavas cozinhados por pessoas que não estivessem seguindo aos
princípios vaisnavas. Ele considerava tal ato como causa de queda da
plataforma espiritual, mesmo que tal alimento fosse considerado por
todos os presentes como sendo prasadam.
O Segundo Princípio Regulativo
É outra causa de rebuliço, piadas e brigas entre devotos na internet
fotos e vídeos de Hridayananda Maharaj praticando esportes como vôlei e,
em seu episódio mais controverso, jogando ping pong contra uma mulher.
Esses conflitos ocorrem pois Hridayananda Maharaj não compartilha o
mesmo entendimento de certos devotos e mestres espirituais em nosso
movimento de que praticar esportes recreativos se enquadre como sendo
uma quebra do segundo princípio regulativo, não praticar jogos de azar.
Um breve parênteses sobre esse episódio: Hridayananda Maharaj também
discorda de devotos que defendem regras estritas de não-associação entre
sannyasis e mulheres. Eu pessoalmente escrevi a Hridayananda
Maharaj alegando que os devotos estão questionando suas atitudes de
praticar esportes com mulheres, de tocar mulheres fisicamente (
abraçando-as de lado enquanto posa para fotos, por exemplo ), e de dar
orientações a mulheres na ausência de seus maridos. Também disse que
tais devotos estão baseando seus questionamentos em citações do Srimad
Bhagavatam e de outras escrituras que condenam tais comportamentos
explicitamente. Uma delas é um verso traduzido pelo próprio Hridayananda
Maharaj, no décimo primeiro canto do Srimad Bhagavatam:
“Aqueles
que não são casados — sannyāsīs, vānaprasthas e brahmacārīs — nunca
devem se associar com mulheres por olhá-las, tocá-las, conversar com
elas, brincar ou praticar esportes com elas. E também jamais devem eles
se associar com qualquer entidade viva ocupada em atividades sexuais.”
Diante destes questionamentos, Hridayananda Maharaj respondeu o seguinte:
“Eu
em pessoa já vi Prabhupada apertar as mãos de mulheres respeitáveis.
Não há injunção contra falar com mulheres quando seu ‘protetor’ não está
presente. Prabhupada fazia isso o tempo todo.”
Em outra ocasião, o secretário pessoal de Hridayananda Maharaj forneceu a seguinte resposta:
“Antes
de mais nada, há várias instruções nos versos e significados que
parecem ser contraditórias. Se nós pegarmos um verso ou significado
então nós estamos desconsiderando a hermenêutica de Srila Prabhupada de
guru, shastra e sadhu. Ademais, para entender a um verso dos shastras,
deve-se olhar a todo o corpo literário, e não só pra essa ou aquela
citação, já que é inevitável que existam muitas contradições entre as
instruções. As instruções para sannyasis variam nos shastras e a
instrução-chave dada por Srila Prabhupada foi pregar. Hridayananda Dasa
Goswami não pode ser acusado de nenhuma violação de princípios: ele
estava simplesmente se relacionando com uma família de uma maneira
saudável. Se alguém fica ofendido com isso, ele tem um problema sério.
Lembre-se que isso não é um assunto secreto: toda a família estava lá e
isso foi gravado pelo pai, já que ele estava tão feliz em ver um swami
se relacionando com sua família!
Em
segundo lugar, Rupa Goswami discutiu os detalhes e princípios do
serviço devocional. Você se focou em detalhes circunstanciais enquanto
os princípios que abrangem o todo foram ignorados. O ato de se
relacionar com uma família e encorajar as crianças a se sentir bem entre
swamis em uma situação casta enquanto os pais estão presentes parece
ser bastante inocente para mim. Na minha humilde opinião, devotos que
estão brigando sobre esse assunto certamente prestaram pouco serviço
verdadeiro e é melhor que você evite essa associação.
Em
terceiro lugar, você parece estar preocupado com ‘esportes’. Srila
Prabhupada nos encorajou a manter nossos corpos sadios: isso requer
alguns esportes. Por exemplo, eu faço natação todos os dias para manter
minha saúde. Se Hridayananda Dasa Goswami também está preocupado com sua
saúde, ele na companhia de toda a família jogou um turno na mesa de
ping pong. Se alguém acha que ele seja ‘caído’ por causa disso: então eu
sinto pena por eles. Eles vivem em um mundo preto e branco onde as
maravilhosas nuances da nossa filosofia foram perdidas.
Porém,
já que o nosso mundo é feito de tantos devotos que não entendem a
diferença entre detalhes e princípios, Hridayananda Dasa Goswami não
permitirá que tal vídeo seja postado [ no YouTube ] novamente.”
Mas Prabhupada em diversas ocasiões condenou a prática de esportes por seus devotos iniciados.
“Yoga
é difícil: a primeira coisa é controlar os sentidos. Essa é a posição
do yogi: ele não pode se ocupar em vida sexual. Se você se ocupa em
intoxicação, se você se ocupa em comer carne, e se você se ocupa em
jogos de azar ou em esportes – todas estas coisas sem sentido – você não
pode ao mesmo tempo se tornar um yogi.”[7]
“Os
demônios arranjam muitos tipos de espetáculos para ver a ofuscante
beleza de uma bela mulher. Aqui está sendo dito que eles viram uma
garota brincando com uma bola. Algumas vezes os demoníacos fazem
arranjos para os assim chamados esportes, tais como tênis, com o sexo
oposto. O propósito desses esportes é ver à construção corpórea de uma
bela garota e desfrutar de uma mentalidade de sexo sutil. A mentalidade
demoníaca de desfrute material é algumas vezes encorajada por supostos
yogis, que encorajam o público a desfrutar da vida sexual em diferentes
variedades e ao mesmo tempo fazem a propaganda de que e alguém meditar
em algum mantra manufaturado, ele pode se tornar Deus dentro de seis
meses.”[8]
“E
sem jogos de azar ou esportes desnecessários. As pessoas estão perdendo
tempo. Tantos esportes eles inventaram: esportes de bola, essa bola,
aquela bola. Você vê? A vida humana é muito curta. Nós não sabemos
quando vamos morrer. Antes disso, nós devemos nos preparar para a
próxima vida. A próxima vida significa ir diretamente de volta para
Kṛṣṇa, a maior perfeição.”[9]
Srila Prabhupada claramente pregava contra ball games, isto é, esportes que envolvem uma bola.
Entretanto, Hridayananda Maharaj possui um entendimento diferente, que ao meu pedido, ele expôs a seguir:
“O
Senhor Krishna diz no Gita que em moderação, é preciso recreação para
que se possa praticar a vida espiritual. Prabhupada ficava feliz ao ver
seus discípulos brincando no oceano na Stimson Beach, ao norte de San
Francisco. Prabhupada era contra desperdiçar tempo e energia com
esportes em excesso, mas ele não se opunha a exercício em moderação; de
fato, ele o encorajava. Novamente, isso não é uma grande questão, já que
nenhum shastra fala sobre isso, e Rupa Goswami não inclui isso na lista
dos princípios básicos da bhakti-yoga.”
A divergência fundamental, portanto, é que Hridayananda Maharaj parece
não diferenciar entre mero exercício físico e esportes competitivos: de
acordo com sua instrução, todos são permitidos.
O Terceiro Princípio Regulativo
Felizmente, ainda não surgiram controvérsias acirradas entre devotos a
respeito deste princípio, a parte da eterna controvérsia sobre o
chocolate.
Para os interessados, há uma resolução oficial do GBC de 1993 ( nº 31 )
dizendo explicitamente que o chocolate não deve ser consumido por
devotos da ISKCON. [12]
O princípio que segue abaixo, porém, é de longe a maior causa de
conflitos entre os devotos na ISKCON, e em especial de conflitos com a
pregação de Hridayananda Maharaj.
O Quarto Princípio Regulativo
Tudo começou quando, em fevereiro de 2005, Hridayananda Dasa Goswami publicou um longo ensaio chamado “Vaisnava Moral Theology and Homosexuality”
[13], o qual não apenas continha a proposta de uma nova atitude
institucional em relação aos homossexuais, mas também uma compreensão
divergente sobre o que seja o quarto princípio para devotos iniciados.
O ensaio provocou várias reações, algumas delas bastante drásticas:
Krishna Kirti Das, que até então era discípulo de Hridayananda Maharaj,
rejeitou formalmente ao seu guru devido às suas novas ideias acerca da
sexualidade, e escreveu um outro ensaio em resposta à publicação
original de seu ex-guru. [14] Danavir Goswami, que reside nos Estados
Unidos, também escreveu uma resposta refutando aos argumentos de
Hridayananda Maharaj, e a publicou. [15]
Tanto naquele ensaio quanto em vários outros lugares, Hridayananda
Maharaj defende que Srila Prabhupada pregava dois padrões de sexo
lícito:
Em seus ensinamentos, Prabhupada frequentemente definia “sexo ilícito”
como “sexo fora do casamento”, e ele também deu uma definição mais
rigorosa: “sexo que não se destina à procriação”. Portanto, nós
possuímos ambos padrões. Muitos grhasthas seguem o padrão mais fácil,
que ainda é admirável nesses dias e nesta era. [17]
Sendo assim, de acordo com o que prega Hridayananda Maharaj, todo sexo
realizado dentro do casamento é lícito, mesmo caso ele não se destine à
procriação. Segundo sua tese, aqueles que estão evitando filhos através
dos mais diversos métodos ao mesmo tempo que desfrutam de prazer sexual
estão seguindo ao quarto princípio regulativo em seu padrão “real”,
mesmo que esse não seja o padrão “ideal”.
Tal pregação está em desacordo com uma resolução do GBC publicada em 2001, data anterior à publicação de seu ensaio:
“Dado que:
– Muitos devotos estão confusos acerca do que seja sexo ilícito;
–
Srila Prabhupada claramente disse que ‘a pureza é a força’ e que isso
advém de seguir aos quatro princípios regulativos estritamente; e
–
É importante treinar apropriadamente aos novos devotos de acordo com os
padrões de Srila Prabhupada e manter sua fé na necessidade de aderir a
esses padrões.
Portanto,
fica resolvido QUE: O Corpo do GBC deseja esclarecer que de acordo os
ensinamentos de Srila Prabhupada, a vida sexual de acordo com princípios
religiosos seguida por Gaudiya Vaisnavas é para a propagação de filhos,
não para nenhum outro propósito, e que a responsabilidade dos pais é
tornar sua prole consciente de Kṛṣṇa. Conforme dito no Quinto Canto do
Srimad-Bhagavatam, “O sexo é permitido somente para a geração de filhos,
não para desfrute. Pode-se ocupar em sexo para gerar a uma criança
consciente de Kṛṣṇa para o benefício da família, da sociedade e do
mundo. Caso contrário, sexo é contra as regras e regulações da vida
religiosa.” ( SB 5.14.9 p)
Enquanto
a definição de sexo ilícito de Prabhupada é clara, também é claro que
alguns devotos tem dificuldades em manter os seus votos de iniciação. O
GBC reconhece isso, e sugere que ao invés de tentar ajustar a definição
de Prabhupada, nós deveríamos prosseguir com o serviço devocional, e
humildemente e sinceramente continuar tentando alcançar o padrão
apropriado. Nesse quesito, Srila Prabhupada escreve, “No começo da
consciência de Kṛṣṇa, alguém pode não cumprir completamente com as
injunções do Senhor, mas porque não se é ressentido contra esse
princípio e se trabalha com sinceridade sem consideração de derrota ou
de desesperança, ele certamente será promovido ao estágio da pura
consciência de Kṛṣṇa.” ( Bg. 3.32 p)”
Cabe dizer que, após a publicação da tese, o GBC não tomou quaisquer
medidas substanciais contra este aspecto específico da pregação de
Hridayananda Maharaj, e para todos os propósitos, ela está sendo
permitida pelo GBC dentro da ISKCON.
Danavir Goswami contestou à tese de Hridayananda Maharaj da seguinte forma:
“Por que a Tese Moral [ de Hridayananda Dasa Goswami ] propõe uma “versão mais fácil” do que foi estabelecido pra os vaisnavas grhasthas? Faz-de-conta não constitui um princípio religioso, nem pode sexo ilícito dentro do casamento ser corretamente chamado de grhastha asrama. Srila Prabhupada deixou padrões iguais para todos os seus seguidores, onde o grhastha asrama
é caracterizado como uma ordem espiritual na qual marido e mulher fazem
avanço espiritual. Chefes de família que não seguem aos princípios
regulativos enunciados nesses versos do Srimad Bhagavatam [ SB 7.12.11 ]
não pertencem ao grhastha asrama, mas são denominados grhamedhis
( chefes de família materialistas ). A falácia da “versão mais fácil”
definitivamente não é a regra para vaisnavas porque não foi dada pelos
sastras, pelos acaryas anteriores ou por Srila Prabhupada.
A
Tese Moral fabrica uma “versão mais fácil” na base de seu próprio
raciocínio especulativo sobre o “menor de dois males”. Tal proposição é
tão tola quanto o slogan ateísta yata mata tata patha – “todos os
caminhos levam à Verdade”. Nós não podemos manufaturar nossa própria
maneira de compreender ao serviço devocional, pois não é verdade que
tudo que alguém manufature ou especule irá nos levar a compreender a
Deus.” [15]
Hridayananda Dasa Goswami não nega que exista um “padrão ideal” de sexo
para procriação escrito nos shastras. Entretanto, ele defende também a
existência de um “padrão real”, que se limita a exigir que o sexo exista
somente dentro do casamento, e que esse “padrão real” deve ser
reconhecido como sendo sexo lícito.
Porém, de acordo com a pregação de outros mestres espirituais em nosso
movimento, tal “padrão real” não existe: existe um único padrão
verdadeiro, sexo dentro do casamento e também só para procriação, e todo o resto é tão somente sexo ilícito.
A pregação de Hridayananda Dasa Goswami a respeito dos princípios
regulativos é tão distinta daquilo o movimento Hare Krishna promovia na
década de 70 que até mesmo o público leigo conseguiu perceber a mudança.
Na reportagem entitulada “Hare krishna versão light”, em que a revista Época entrevistou um dos discípulos sêniores de Hridayananda Maharaj, o repórter escreveu:
“Na
década de 70, quando começou a se propagar pelo mundo, o movimento hare
krishna exigia que seus devotos seguissem normas rígidas. Os seguidores
moravam dentro dos templos, usavam roupas típicas (saris para as
mulheres e dotins para os homens) e pintavam o rosto e outras partes do
corpo com a tilaka, uma areia dos rios sagrados da Índia. Para sustentar
os templos, vendiam livros e incensos nas ruas. Sexo, só para se
reproduzir.
Hoje,
o conceito de hare krishna está em discussão. Para alguns líderes,
basta cantar o mantra para o indivíduo ser considerado parte do
movimento. Outros dizem que os vegetarianos já estão no caminho para a
salvação. O único consenso é ser – ou se considerar – um devoto de
Krishna, um dos deuses do hinduísmo.”[20]
Conclusão
Conforme se apresenta na data atual ( 2017 ), o Krishna West não é
apenas um projeto de modificar aspectos externos e detalhes da
consciência de Krishna, tais como roupas e culinária. Algumas coisas que
aos olhos dos devotos aderentes ao Krishna West são apenas detalhes
dispensáveis, para os olhos de outros devotos são partes constituintes e
indispensáveis dos quatro princípios regulativos, que são aspectos
básicos e fundamentais da nossa filosofia.
Já houve um tempo em que existiu na ISKCON um único entendimento sobre o
que seja seguir quatro princípios regulativos: esse tempo já passou e
não existe mais. Enquanto o GBC não toma medidas para readequar a
instituição a esta nova realidade, ou para restaurar a realidade
anterior, os devotos não devem iludir ao público, uns aos outros e a si
mesmos propagando a ideia de que todos os devotos e mestres espirituais
da instituição estão pregando o mesmo entendimento sobre o que seja
seguir quatro princípios regulativos.
Referências
[2] Meditation 145. http://www.romapadaswami.com/node/2869
[3] Digest 46B. http://www.romapadaswami.com/node/2137
[7]”Yoga
is difficult: the first thing is to control the senses. That is the
position of the yogī: he is not allowed to indulge in sex life. If you
indulge in intoxication, if you indulge in meat-eating, and if you
indulge in gambling and sporting—all nonsense—you cannot at the same
time become a yogī.” – Kṛṣṇa Consciousness, The Topmost Yoga System –
TYS 4: The Goal of Yoga
[8]”Demons
arrange many kinds of performances to see the glaring beauty of a
beautiful woman. Here it is stated that they saw the girl playing with a
ball. Sometimes the demoniac arrange for so-called sports, like tennis,
with the opposite sex. The purpose of such sporting is to see the
bodily construction of the beautiful girl and enjoy a subtle sex
mentality. This demoniac sex mentality of material enjoyment is
sometimes encouraged by so-called yogīs who encourage the public to
enjoy sex life in different varieties and at the same time advertise
that if one meditates on a certain manufactured mantra one can become
God within six months.” [ SB 3.20.25 ]
[9] Interview, 12-19-68, Los Angeles
[12] nº 31, Resoluções do GBC de 1993. http://gbc.iskcon.org/2012/02/09/1993/
[13] “Vaisnava Moral Theology and Homosexuality”. http://www.harekrsna.com/sun/editorials/dandavats/homosexuality.pdf
[14]
“A Response to Hridayananda das Goswami’s“Vaisnava Moral Theology and
Homosexuality” & Sex Life Srila Prabhupada Sanctioned”. http://www.harekrsna.org/gbc/black/response_to_gay_monogamy.pdf
[15] “Moral Thesis Unravelled”. http://harekrsna.com/sun/editorials/08-05/editorials20.htm
[17] “O sexo como uma expressão de amor”. Ask Acharyadeva Português. https://askacharyadevaportugues.wordpress.com/2013/06/22/o-sexo-como-uma-expressao-de-amor/
[18] Resolução disponível em https://goo.gl/3TdP90 ou em https://web.archive.org/web/20141020100442/http://gbc.iskcon.org/2012/01/31/2001/ .
[20] “Hare Krishna versão light”. Revista Época. http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI17627-15228,00-HARE+KRISHNA+VERSAO+LIGHT.html
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"To do things hastily and incorrectly is not good. Anything valuable takes a little time to come into existence. Therefore there is no harm in waiting for the best thing. But everything is well that ends well: That should be the principle."
Prabhupada Letters :: 1969.
.............................................................................
"Hacer las cosas de afán y mal no es bueno. Algo valioso toma un poco de tiempo para llegar a existir. Por lo tanto no hay daño en esperar lo mejor. Pero si algo va bien termina bien. Ese debe ser el principio".
Cartas de Prabhupada :: 1969.