A Produção em Massa dos Śūdras
Sociedade moderna, comunismo e a negação do dharma segundo a visão de A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupāda
Introdução
A modernidade contemporânea, embora ostente conquistas científicas e avanços tecnológicos, encontra-se enredada em uma crise civilizacional profunda. O colapso de princípios espirituais, a desintegração das estruturas sociais tradicionais e a ascensão de ideologias materialistas revelam um panorama alarmante. Em uma conversa gravada em Atlanta (1975) com acadêmicos e monges trapistas, o mestre védico e reformador espiritual A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupāda — fundador da International Society for Krishna Consciousness (ISKCON) — descreveu de forma categórica essa condição: “Neste era, praticamente todos são śūdras, porque ninguém consegue viver de forma independente” (Prabhupāda, 1975).
Esta reflexão, ancorada na tradição védica da Índia, fornece uma crítica sofisticada à sociedade moderna e à falácia estrutural de sistemas como o comunismo, propondo como alternativa a restauração do dharma — a ordem cósmica e espiritual que sustenta a verdadeira dignidade humana.
1. A desestruturação do modelo social tradicional
Na cosmovisão védica, a sociedade ideal está estruturada segundo o sistema de varṇāśrama-dharma, baseado nas qualidades (guṇa) e nas atividades (karma) do indivíduo, e não no nascimento. Este sistema contempla quatro ordens sociais — brāhmaṇas (intelectuais e guias espirituais), kṣatriyas (líderes e protetores), vaiśyas (comerciantes e produtores) e śūdras (trabalhadores manuais e auxiliares) — funcionando em equilíbrio, sob orientação espiritual.
A sociedade moderna, ao descartar essa estrutura orgânica, promove uma homogeneização funcional, na qual a maioria das pessoas é condicionada a viver como śūdras: dependentes de empregos, instituições e sistemas econômicos centralizados. A educação, que deveria iluminar o discernimento moral e espiritual, tornou-se um meio de formação técnica e de adaptação ao mercado. Como observa Prabhupāda, “estamos produzindo uma massa de śūdras” (Prabhupāda, 1975).
2. A falácia do comunismo e a negação da transcendência
Prabhupāda aponta o comunismo como a expressão final da consciência de śūdra. Para ele, a filosofia comunista, ao advogar que “o poder pertence aos trabalhadores”, nega qualquer princípio transcendente e institui um materialismo militante. A recusa em reconhecer uma autoridade superior, como Deus ou o dharma, conduz inevitavelmente à anarquia espiritual e ao autoritarismo político.
“A filosofia comunista é: ‘Somos trabalhadores. Temos todo o poder. Devemos ter todo o poder.’ [...] E porque não querem obedecer nenhuma autoridade, estão negando a existência de Deus” (Prabhupāda, 1975). Tal sistema, ainda que pretenda libertar o indivíduo da exploração econômica, conduz à escravidão interior, pois substitui o tirano externo por uma ideologia que relega a alma ao esquecimento.
3. O esquecimento do dharma e a animalização do ser humano
A tradição védica distingue claramente o ser humano do animal: ambos compartilham funções biológicas básicas — alimentação, repouso, reprodução e defesa. No entanto, apenas o ser humano possui a capacidade de buscar a verdade transcendental e compreender Deus. Essa aptidão constitui a essência da humanidade.
Quando essa busca é abandonada, o ser humano perde sua identidade espiritual. Prabhupāda invoca o ensinamento clássico: dharmeṇa hīnāḥ paśubhiḥ samānāḥ — “aquele que está privado de dharma é igual a um animal” (Mahābhārata, Anuśāsana-parva 63.6). A negação de Deus e da ordem cósmica leva a uma forma refinada de barbárie: uma sociedade economicamente eficiente, mas moralmente falida e espiritualmente vazia.
Conclusão
A análise de A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupāda propõe uma crítica que vai além dos rótulos políticos e econômicos. Ao identificar a degeneração espiritual como raiz da crise moderna, ele convida à restauração de um princípio esquecido: a centralidade do dharma. A civilização só pode recuperar sua sanidade quando o ser humano reassumir sua natureza espiritual, guiado pela consciência de Deus (Kṛṣṇa) e pelo serviço desinteressado.
Diante da decadência de sistemas que produzem śūdras em massa e da ilusão de liberdade promovida por ideologias seculares, a sabedoria védica oferece não apenas crítica, mas direção: um chamado à transcendência, à responsabilidade interior e à reintegração do humano com o divino.
Referências
- Prabhupāda, A.C. Bhaktivedanta Swami. Room Conversation with Trappist Monks, Psychologists from the University of Georgia, and Atlanta Lawyer Michael Green. March 1, 1975. ISKCON Archives.
- Mahābhārata, Anuśāsana-parva 63.6: dharmeṇa hīnāḥ paśubhiḥ samānāḥ.
Sobre o autor
Este artigo foi escrito com base nos ensinamentos de Śrīla A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupāda e adaptado por [Dhanurdharadasa], pesquisador independente e estudante da tradição bhakti-yoga.
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"To do things hastily and incorrectly is not good. Anything valuable takes a little time to come into existence. Therefore there is no harm in waiting for the best thing. But everything is well that ends well: That should be the principle."
Prabhupada Letters :: 1969.
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"Hacer las cosas de afán y mal no es bueno. Algo valioso toma un poco de tiempo para llegar a existir. Por lo tanto no hay daño en esperar lo mejor. Pero si algo va bien termina bien. Ese debe ser el principio".
Cartas de Prabhupada :: 1969.